Instituto Gentil de Faria - Pesquisa e Consultoria em Educação e Cultura
Instituto de Pesquisa Científica
Em formação
| | igfaria.com.br |
| | +55 17 3216-1900 |
| | Av. Arthur Nonato, 5411 - Jardim Bosque da Saúde, São José do Rio Preto - SP, 15091-050, Brasil |
Localização
Descrição
O interesse dos coreanos no Brasil ultrapassou os limites financeiros. Prova disso é que o país procura alargar as relações com a cultura brasileira por meio do convite feito ao professor rio-pretense Gentil de Faria para participar de um evento promovido em conjunto com a Associação Coreana de Literatura Comparada.
O objetivo é tornar a cultura coreana conhecida pelo público verde-amarelo e, por outro lado, saber mais a respeito do que o Brasil produz, além de mão de obra e mercado consumidor. Atualmente, vivem no Brasil aproximadamente 50 mil coreanos, mais concentrados no Estado de São Paulo.
Esses imigrantes, no entanto, têm pouco ou nenhum contato com a produção cultural nacional, uma vez que a comunidade coreana mantém-se fechada e restringe as relações entre si. A intenção da Coreia do Sul, entretanto, é mudar esse cenário e abrir-se às influências externas e, claro, influenciar também a cultura local com o que produz.
Existem hoje, de acordo com Gentil de Faria, pouquíssimas obras coreanas traduzidas para a Língua Portuguesa. No ano passado, apenas uma coletânea de contos coreanos chegou às prateleiras nacionais. Essa raridade de traduções deve-se ao desconhecimento da produção cultural coreana, mas também à diferença estabelecida na linguagem, uma vez que a escrita coreana é muito semelhante à chinesa, um código de sinais bem diferente do utilizado pelo Ocidente.
O ponto central da produção literária da Coreia reflete a situação política vivida pelo povo daquele país. Segundo o professor Gentil de Faria, os conflitos com a Coreia do Norte e as perdas que tal situação provocou e ainda provoca podem ser observados no que escrevem os autores coreanos. Portanto, as obras tendem a ser intimistas e tratar de um universo de dor, perda e separação.
A forma da produção daquele país asiático também desperta interesse em quem pesquisa a área literária. Devido à propriedade da escrita coreana, a literatura deles já foi estudada por aqui por nomes do movimento concretista como Paulo Leminski e Haroldo de Campos.
“Campos e Leminski estudaram concretistas coreanos. Uma vez que a grafia se assemelha aos chinês, o coreano exerce fascínio aos concretistas. Essa característica de movimento concreto teve um certo prestígio aqui no Brasil. Atualmente, os coreanos produzem um conteúdo moderno, mais intimista, de reflexão, as contistas coreanas são extraordinárias. A literatura deles desperta bastante interesse porque é diferente e trata de um mundo que a gente não está acostumado”, afirma Gentil de Faria.
O professor diz também estar impressionado pela quantidade de nomes femininos presentes na produção literária. Ele afirma ainda que a dificuldade de encontrar obras coreanas traduzidas não é exclusividade nacional: livros escritos por autores da Coreia começaram a ganhar mais espaço no mundo apenas a partir do ano 2000.
O convite para participar do evento de literatura foi feito há mais de dois anos, quando o professor teve contato com o consulado coreano para a promoção de palestras a fim de explorar a parte cultural do Brasil, ainda pouco conhecida pelas grandes empresas coreanas que investem em território nacional.
A partir do convite, o professor decidiu investir em conhecimento da língua e cultura coreanas. Assim, aprendeu, de maneira autodidata, a língua escrita e falada na Coreia. O congresso de literatura é promovido pela Associação Internacional de Literatura Comparada e é realizado a cada três anos.
“Fiz uma pesquisa a partir da vinda dos coreanos para o Brasil, que começou em 1972. Na minha colocação, devo contar um pouco dessa história. Vou falar também dos olhares que um povo tem a respeito do outro e os estereótipos que se formaram a partir disso, de que o brasileiro é um povo mais aberto e disposto a se relacionar e de que os coreanos são herméticos e mais reservados.”
O convite para participar do evento coreano não é o único indício de que há a intenção de estreitar laços para além das relações comerciais. Há, de acordo com Gentil de Faria, um grupo na Universidade de São Paulo (USP) que estuda a cultura coreana e pretende inserir a língua falada e escrita naquele país no currículo da universidade.
“A Coreia é um território pequeno, com um terço da população residindo em Seul, com alto índice de escolaridade, característica que a difere bastante do Brasil. Os coreanos estão interessados no mundo e a projeção do Brasil na América Latina é evidente, por isso eles estão presentes aqui por meio da embaixada coreana e do consulado em São Paulo. A ideia é que esse intercâmbio se fortaleça cada vez mais”, diz.
Aproveitando a oportunidade de conhecer a Coreia do Sul, o professor rio-pretense pretende esticar a viagem até a polêmica vizinha Coreia do Norte. Mas existe uma lista de exigências a ser cumprida para que essa visita aconteça, por isso, Faria ainda espera a aprovação do pedido.
Entre as exigências feitas para que seja autorizada a visita está a proibição de fotos, de posicionamento político e a passagem obrigatória pela estátua do imperador. “O fato de ter sido convidado pela Coreia do Sul facilita a aceitação do meu pedido de entrar na Coreia do Norte. Mas não pretendo passar mais de um dia. Vou apenas visitar a universidade e aprender mais sobre o sistema de ensino coreano”, afirma Gentil de Faria. O professor rio-pretense embarca para a Coreia do Sul no próximo dia 12 e permanece do país oriental até o fim do mês.